quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Tolerância Zero

Sagran Carvalho Junior

Ficamos indignados quando a mídia expõe casos de corrupção no meio político, como o recente no Ministério dos Transportes, e os não tão recentes, mas também muito divulgados à época, do Governador do Distrito Federal e grande parte do legislativo Candango, do mensalão e do dinheiro na cueca, da quebra do sigilo bancário de uma caseiro por um Ministro de Estado, das contratações irregulares no Senado, do enriquecimento acelerado do Ministro Chefe da Casa Civil e outros tantos...que passaria a noite inteira mencionando.
Segue...
A alguns anos atrás, a cidade de Nova Iorque nos Estados Unidos era considerada uma das mais violentas daquele País, com um banditismo que ameaçava tornar a vida da população na cidade  simplesmente insuportável.
Aí me perguntam: O que tem a ver a criminalidade nova-iorquina com a corrupção brasileira?
Continuo...lá em certo momento o problema se tornou tão grave, que o prefeito de então, Rudolph Giulliani lançou um programa intitulado "Tolerância Zero" que tinha como meta diminuir substancialmente os índices de criminalidade na cidade e torná-la mais agradável e tranquila ao cidadão comum e trabalhador que reside ou visita a cidade, que para muitos, é considerada a capital econômica e cultural do planeta.
As medidas adotadas pelo prefeito iam desde o investimento pesado nas Forças de Segurança Pública, entre eles, em inteligencia, passando por um ataque feroz ao crime organizado, tendo como foco as várias Mafias existentes na cidade, que haviam assumido o tráfico de drogas como seu principal negócio, além do combate sistemático às gangues. Este plano continha também todo um projeto de recuperação de áreas abandonadas e degradadas, das quais os criminosos se apossaram. Esta estratégia, se vitoriosa, conseguiria valorizar ainda mais a cidade, solucionando grandes problemas sociais, tendo como resultado o aumento da auto-estima da população, além de desalojar os criminosos que as tinham como um porto seguro para suas atividades. Estas ações iam desde a total recuperação de ruas, praças e locais públicos, até a simples exigência de que os habitantes mantivessem suas janelas em perfeitas condições. No fim, o plano deu certo, os índices de criminalidade diminuíram consideravelmente, e até hoje a cidade ainda passa por um processo de revitalização e valorização de seus espaços públicos e privados.
Mas a pergunta continua: O que tem tudo isto a ver com a corrupção endêmica brasileira?
Nada e tudo!!!...explico...
Quando nos revoltamos com os grandes casos de corrupção, denunciados pela mídia com toda a sua força, damos pouca importância aos pequenos casos que nos cercam do dia a dia, como por exemplo aqueles Reais pagos ao flanelinha que lhe extorque na maior cara de pau, com ameaças veladas ao seu patrimônio, ou quando enfrentamos a burocracia em algum órgão público, onde funcionários que deveriam ali estar para atender aos cidadãos que lhe pagam o salário, solicitam uma "forcinha" para que suas demandas sejam atendidas com maior agilidade, ou mais ainda quando você...sim, você cidadão brasileiro oferece ao policial aquele cafezinho para que ele não veja a lanterna queimada de seu veículo e não lhe aplique a devida multa.
O que pretendo mostrar é que a corrupção que grassa infelizmente por este País se transformou ou sempre foi uma questão cultural, onde o respeito às leis, ao próximo e à cidadania não passam de mera propaganda do ideal a ser um dia alcançado ... Seria o desejado pela população... mas, desde que os outros comecem, para que aí sim podermos avaliar se vale a pena, e, dentro de nossos interesses pessoais, seguir ou não. Infelizmente este é o pensamento usual!
Desta maneira, só vejo a longo prazo duas maneiras de, senão erradicar este câncer de nossa sociedade, ao menos diminuí-lo de forma substancial.
Primeiro:
Investimento em educação de qualidade de forma contínua e a longo prazo, o que hoje não acontece, para que tenhamos a chance de ensinar as próximas gerações o quanto é importante o sentimento de cidadania, de respeito ao próximo e às leis, de patriotismo sem ufanismos inconsequentes, e além de tudo de respeito a si mesmo.
O problema é que para este primeiro passo dependemos também e em grande medida da classe política, pois são nossos governantes que definem como serão investidos os recursos nesta área tão estratégica para nosso futuro. Depende acima de tudo, de você mostrar, cobrar e exigir de seus representantes que eles invistam o que é necessário, com responsabilidade e honestidade. E a arma para isto está em nossas mãos...! Quando estivermos em frente a uma urna eleitoral temos que ter certeza de estar fazendo a opção correta, e para isto existem várias ferramentas à nossa disposição neste mundo extremamente informatizado e globalizado, bastando apenas se interessar e procurar.
Segundo:
Este é bem menos complicado, por depender única e exclusivamente de nós mesmos. Porém, não é menos difícil, por envolver questões culturais, e principalmente interesses pessoais. Devemos adotar para nós...sociedade brasileira, a mesma estratégia adotada pelo prefeito nova-iorquino Rudolph Giulliani. Tolerância Zero para qualquer ato de improbidade que se apresente no cotidiano, desde os pequenos, como no caso dos flanelinhas, até os mais significativos, que podem interferir na nossa vida diretamente, causando transtornos, revoltas e sentimentos de impotência.
Devemos deixar de sermos reféns do sistema! Na verdade temos que assumir a luta para que o sistema funcione dentro dos limites da lei, da civilidade, da educação e do bom senso, acabando com o círculo vicioso que a tanto tempo impera, pois ao menos em teoria,  ele foi criado para que a sociedade possa ter acesso aos direitos que lhe servem, mas também para que ela cumpra com os deveres que lhe cabem, sem necessidade de agrados ou propinas a quem quer que seja em nome de interesses menores. É fácil...? Sei que não. Mas se não nos propusermos a mudar, aí sim é que tudo permanecerá como está.
Nisto pergunto:
Você aceitaria corromper ou ser corrompido apenas para obter ganhos pessoais sem se importar com a sociedade, ou em ser um exemplo para sua família?
A resposta deixo para vocês. Eu já respondi.

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